Varejo no Brasil: O que o fechamento das lojas da Forever 21 diz ao empreendedor
Uma marca global de varejo chegou ao Brasil com planos ambiciosos, de olho em um dos maiores mercados consumidores do mundo. Mas, depois de investimentos e alguns anos de grandes esperanças, o negócio começou a encolher até que ele decidiu deixar o país. A mais recente protagonista dessa história é a Forever 21, rede de varejo de fast fashion norte-americana, que anunciou na noite desta segunda-feira (13) que fecharia as portas de 15 de suas lojas físicas no Brasil.
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A empresa faz anúncios no país desde 2014, via redes sociais. A varejista também anunciou que estava vendendo todos os seus produtos com pelo menos 50% de desconto.
Redes como a espanhola Mango e a britânica Topshop também deixaram o país na última década, citando cargas tributárias ou dificuldade de operar em escala para diluir custos, entre outros motivos.
Outras sempre entram no país em fase de aprendizado, como a sueca H&M. No caso da Forever 21, há uma combinação de fatores. A empresa tem enfrentado dificuldades fora do Brasil desde que a pandemia fez com que as vendas globais caíssem. Em setembro de 2019, entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos e anunciou o fechamento de suas lojas em vários países.
Esse foi o gatilho para a paralisação no Brasil, de acordo com Alexandre Machado, chefe de entrega de varejo da Bip, uma consultoria global no Brasil. Para ele, é apenas “uma questão de tempo” até que as consequências da crise global da Forever 21 cheguem ao Brasil.
Durante um processo de reestruturação judicial, a administração normalmente analisa as despesas e operações não lucrativas e as revisa para gerar caixa. O que está acontecendo no exterior provocou o fechamento de lojas, embora no Brasil demore mais”, disse. Além das dificuldades das operações globais, a situação econômica do Brasil com altas taxas de juros e desaceleração da atividade também prejudicou a fase recente de operação do país.
No ano passado, a Forever 21 foi alvo de um processo diferente da administradora do shopping por atraso no pagamento do aluguel. A Bloomberg Línea entrou em contato com a Multiplan (MULT3) e a brMalls (BRML3), que administra os shoppings onde estão localizadas a maioria das lojas da marca norte-americana, mas nenhum dos dois se pronunciou sobre o assunto.
Também não houve contato telefônico com a administração do shopping Rio Sul, no Rio de Janeiro, onde a Forever 21 enfrentou despejo no ano passado.
Crédito faz a diferença
Machado, especialista em varejo, destacou o que vê como a diferença fundamental entre a atuação da varejista norte-americana no país e as grandes redes brasileiras: o crédito.
O acesso ao crédito pessoal e a possibilidade de parcelamento e facilidade de pagamento cria vínculos, fideliza e gera oportunidades de compra. Isso tem impacto no ciclo de consumo no Brasil”, observou também Júlia Monteiro, analista fundamentalista da My CAP Investimentos.
Monteiro também apontou o modelo de atuação da Forever 21 e a incapacidade de gerenciar as necessidades do país, como crédito ao consumidor, como chave para a saída da marca do Brasil.
Comparado a outras redes globais de fast-fashion que atuam no Brasil desde 1999, como a espanhola Zara, Machado lembra que o número de lojas físicas Forever 21 no país é limitado.
Segundo ele, as redes norte-americanas acabaram assumindo uma posição mais elevada na pirâmide de renda e se concentraram nas categorias A e B na tentativa de fazer o modelo funcionar no país, mas em vão.
Outras redes nacionais de varejo, como Renner (LREN3) e Riachuelo (GUAR3), utilizam o crédito ao consumidor para realizar negócios, o que atrai clientes de baixa renda e muitas vezes fideliza. “Forever é uma marca que sucumbiu tanto quanto qualquer outra”, concluiu Machado, aludindo a redes estrangeiras como a Topshop, que também deixaram o país nos últimos anos.
Fonte: Bloomberg Línea